Finalmente, depois de muito tempo, de muita labuta com os estudos de matemática, consegui tirar um tempo para escrever de novo no blog. Dessa vez, resolvi fazer uma postagem bem diferente. Antes de mais nada, preciso dizer que, infelizmente, devido às fortes pressões e correrias do curso, postarei com menos frequência que antes (que era quase todos os dias), mas não abandonarei o blog. Portanto, aceito sugestões sobre coisas a se postar, que acharem interessantes, se quiserem que eu comente algum filme específico ou trate de qualquer assunto, ou caso queiram participar do blog de outra forma, fiquem a vontade. É um blog pequeno, claro, sem grandes objetivos a não ser postar coisas que eu acho interessantes para compartilhar com vocês. Mas fiquem a vontade para fazerem parte dele (se quiserem, hehe). Bom, continuando, (eu divago demais) tinha escrito, há uns meses atrás, uma história infantil, porque eu aaaamooo histórias infantis, puras, inocentes, e amo crianças também. A princípio não iria compartilhar, mas pensei: "qual o problema, certo?" Também tinha a intenção de fazer uns desenhos pra ilustrá-la, mas percebi que perdi esse dom há algum tempo (muito triste). Se alguém quiser fazer e me mandar, hehehehe, mas é só uma sugestão, rs. Chega de papo, aí vai (é meio grandinho, hehe):
Quando Amélia
resolveu ser Rainha
Amélia tinha oito anos quando fez
sua primeira rebelião. Seus pais queriam que ela dividisse seus brinquedos com
sua irmã mais nova de três anos, mas Amélia não queria, porque os brinquedos
eram dela e pronto! Então, foi correndo para o seu quarto, juntou todos os
livros que tinha e foi empilhando-os de tal forma a construir uma barricada na
porta do quarto. Pegou uma coroa de rei de um de seus bonecos, colocou sobre
sua cabeça e decretou aos pais:
- A partir de hoje, serei Rainha
do Quarto!
Seu pai, que achou graça, mas não
riu porque pensou que dessa vez deveria levar Amélia a sério, disse:
- Quarto não é nome de reino!
- Tá bom! – concordou Amélia –
Então, a partir de hoje serei Rainha do Reino... de... das... – e olhando o
“muro” que havia construído – Reino do Muro de Livros!
- Rainha do Reino do Muro de
Livros... – pensou o pai – Mas você sabe que é muita responsabilidade, certo?
Afinal, são muitos brinquedos pra governar.
- Eu sei governar, tá!
- Ok, então, Amélia, digo, Vossa
Majestade. Caso precise de algo, o reino vizinho talvez possa lhe ajudar.
- Não preciso da ajuda de
ninguém! Eu sei governar sozinha!
- Nesse caso, não discutirei.
Até!
O pai fechou a porta e
retirou-se, rindo muito por dentro.
Amélia olhou ao redor, viu o
tanto de bonecos e bonecas que tinha, os jogos, os brinquedos, e pensou: “E
agora?” Sentou-se na cama. Em seu reino havia uma estante de livros, onde
ficavam alguns índios e índias com chocalhos em volta de uma fogueira apagada,
que ganhara de uma promoção de chocolates; um caubói que parecia o Woody do Toy
Story, seu desenho predileto; um cavaleiro de espada que ela dizia ser seu
príncipe encantado e um dragão vermelho com dentes enormes para ser seu inimigo.
Em sua cama, vários ursinhos de pelúcia, alguns com pequenos coletes com botões,
que ela sempre ganhava de seus tios e avós. Na cômoda ao lado da cama, guardava
seus pertences pessoais; para enfeitá-la, havia um padre de biscuit que ganhara
de sua avó e anjinhos de porcelana que Amélia mesma comprara, os quais tanto
amava. Na parte de baixo do armário de roupas ficavam a casinha da Barbie com o
Ken, algumas bonecas, um bebê que usava uma chupeta e um rei que ganhara do seu
pai no seu último aniversário; em cima de tudo, jogos de quebra-cabeça, da
memória, de forca, etc; ao lado dos jogos, bem no canto escondido, um boneco da
Dona Morte que seu tio esquisito lhe dera. Amélia nunca fora fã do brinquedo,
mas nunca teve coragem de se livrar das coisas que ganhava. De repente, resolveu
ficar em pé na cama, olhou a todos e disse em voz alta:
- Vocês agora devem me obedecer!
Sou a rainha de todos vocês! Se quiserem algo, devem se dirigir a mim! E eu
decido o que deve ser feito!
Falou com tanta imponência!
Porém, como resposta, obteve os mesmos olhares para o nada de seus bonecos e
bonecas, todos os brinquedos parados, os jogos fechados. Então, sentou-se e
bufou de tédio. Achou que governar seria mais divertido, quando eis que uma voz
se rompe:
- Ei! Eu quero minha coroa de
volta!
Amélia tomou o maior susto!
Achando muito estranho que fosse um de seus bonecos, escondeu-se debaixo do
cobertor e gemendo perguntou:
- Quem está aí?
- Ora, quem! Sou eu, o Rei!
Ela olhou pro boneco do qual
tirara a coroa e hesitante disse:
- Você é rei de onde?
- Como assim de onde? – retrucou
o dono da coroa – Sou Rei do Quarto!
- Mas Quarto não é nome de reino!
– respondeu Amélia lembrando-se do que seu pai dissera – E todo rei tem coroa!
Onde está a sua? – continuou, escondendo-a debaixo do travesseiro.
Então, o Rei olhou indeciso ao
redor e vendo que ninguém mais se manifestava inclinou-se e disse:
- Perdão, minha senhora. A quem
de devo a honra de dirigir-me?
- A Amé... Não! À Rainha do Reino
do Muro de Livros!
O rei, que não era mais rei, fez
uma grave reverência à menina e respondeu:
- Servo Adalberto, a seu dispor,
Vossa Majestade.
E triste, retirou-se para o canto
do armário onde ficava.
Amélia curtiu seu momento de
poder por mais alguns minutos e quando percebeu que magoara Adalberto e que
ninguém mais se manifestava, ficou tristonha.
Estava quase desistindo da idéia
de ser rainha quando veio em sua mente uma brilhante idéia! Ela tinha uma
boneca que usava chupeta. Então, foi até ela e tirou sua chupeta. De repente, a
boneca bebê começou a chorar e não parava mais. E foi aí que aconteceu
exatamente o que Amélia esperava que acontecesse: todos os bonecos e brinquedos
começaram a se inquietar e gritar:
- Mas que diacho! Devolve a
chupeta da menina! – reclamou o caubói.
- GRRRRR! – rugiu o dragão
vermelho.
- Por favor, eu imploro, minha
rainha! Aquiete essa menina de novo! – suplicou a Barbie.
Os ursinhos de pelúcia começaram
a rolar pela cama e pelo chão, desesperados; os índios e índias dançavam em
volta da fogueira apagada; enquanto os anjinhos de porcelana e o padre oravam
pedindo a Deus que a menina parasse.
A alegria de vê-los todos
acordarem acabou rápido quando Amélia percebeu que tudo virara um caos. Logo,
colocou a chupeta de volta na boca da bebê-boneca e gritou:
- Moradores do meu reino! Agora
que finalmente resolveram acordar, quero que me escutem! Sou a nova rainha de
vocês! Ninguém sai ou toma decisões sem meu consentimento, tá?
Todos ficaram em silêncio, alguns
assustados, outros com estranheza, alguns com desdém. Percebendo a falta de
credibilidade com que a olhavam, resolveu tomar uma atitude mais drástica. Foi
de novo até a boneca e colocou a mão em sua chupeta e, ameaçando tirá-la
novamente, perguntou, enfática:
- Entenderam??
Todos mais que depressa se
dispuseram a fazer reverências e a declarar sua submissão. Tudo isso deixou
Amélia muito contente e cheia de si. Ansiosos então para servir a nova rainha,
perguntaram:
- Qual sua primeira ordem, Vossa
Majestade?
Amélia fechou o sorriso e começou
a pensar: que ordem ela queria dar? Então, lembrando as rainhas que vira em
filmes e desenhos, todas cheias de ostentação e pompa, resolveu que queria o
vestido mais belo de todos. Apreensivos, pois queriam agradá-la, começaram a
procurar pelo reino todos os pertences valiosos que pudessem colocar no
vestido. Então, cada um deu de si aquilo que mais davam valor: o caubói deu seu
chapéu, o dragão, seus dentes, o jogo de quebra-cabeças deu algumas de suas
peças, e o da memória deu cada um dos pares; a Barbie cedeu alguns de seus
vestidos, os ursinhos, os seus focinhos ou botões de seus coletes; os índios
deram seus chocalhos e os anjinhos quebraram suas asinhas para dar ao vestido
da rainha, enquanto o padre deu sua bíblia. O bebê foi o único que não deu
nada, e Amélia deixou, porque ele seria útil com a chupeta, seu maior bem. Eram
muitos os brinquedos e bonecos, e, aos poucos, a cama de Amélia foi ficando
cheia de coisas. Só faltava o ex-rei.
- Vossa Majestade, Grande e
Poderosa Rainha do Reino do Muro de Livros. Não tenho nada de precioso para
dar. Meu bem maior, que era minha coroa, foi perdida!
A menina, lembrando que roubara e
escondera a coroa, ficou com medo de dizer que sabia onde estava e ser
descoberta como uma fraude. Então, recordando que tinha todo o poder que
queria, disse:
- Você mente! Porque quer tomar
meu lugar! Aposto como escondeu sua coroa! Que rei perde assim a sua coroa?
Alguém já ouviu falar disso?
Todos concordaram prontamente com
a rainha e passaram a chamar Adalberto de mentiroso e traidor, porque escondera
a coroa e queria o trono pra si. O ex-rei, alarmado, começou a implorar dizendo
que jurava por sua vida que era tudo mentira e que havia mesmo perdido a coroa,
e que não queria o reino pra si. Divertindo-se com o fato de ter todos seus
súditos apoiando-a tão fervorosamente, Amélia decide ousar ainda mais:
- Então está chamando a sua
rainha, a quem jurou servir, de mentirosa?
Adalberto, aflito, colocou suas
mãos no rosto e pôs-se a chorar. Vendo que a brincadeira fora longe demais, ela
decidiu então que pouparia sua vida, mas que, caso a coroa fosse encontrada,
ele deveria ser preso.
Então, a rainha iniciou um grupo
de busca do bem maior do ex-rei. Ela sabia onde estava, mas para disfarçar,
pediu que começassem a busca no armário onde ele ficava. Depois de alguns
minutos, o cavaleiro sem espada (porque agora esta fazia parte do vestido)
bradou:
- Aqui está! Embaixo do
travesseiro de Vossa Majestade! Ele deve ter colocado aqui para dizer que Vossa
Majestade havia roubado a coroa!
As vozes exclamavam:
- Que absurdo! A rainha nunca
faria isso! Ela é cheia de benevolência!
Percebendo que a traição do
ex-rei era ainda maior, ouviu-se:
- Fogueira! – gritou o padre.
- Forca! – berrou o Jogo da
Forca.
Os índios faziam barulho enquanto
pulavam. Barbie chorava nos braços de Ken, o dragão cuspia fogo, os ursinhos
rolavam um em cima do outro, os anjinhos clamavam a Deus pela vida do pobre
homem e a boneca-bebê batia palminhas. De repente, ao ouvir a voz do boneco de
capuz negro e foice na mão, todos se calaram:
- Morte!
Amélia ficou assustada com a
seriedade das coisas e estava quase desistindo de ser rainha quando lhe ocorreu
que isso poderia lhe ser útil. Então, levantando-se sobre a cama, com o nariz
empinado, declarou em alta voz:
- Meus queridos súditos do Reino
do Muro de Livros, ouçam bem. Eu, como rainha, tenho o poder sobre a vida de
cada um de vocês. Portanto, decidi o que fazer com o rei.
Todos olhavam ansiosos com a
decisão. Alguns desejavam o pior, outros acreditavam na misericórdia da rainha.
- Eu decido que... – e olhando os
olhos arregalados de todos, continuou - ... a vida desse meu súdito seja
poupada! E retiro dele todas as acusações!
A Morte retirou-se irritada,
enquanto todos os outros aplaudiam e davam vivas de alegria pela benignidade da
rainha, que passou a ser chamada de Amada Rainha.
Por fora, Amélia sorriu, mas por dentro, sentia-se culpada,
afinal, fora ela quem roubara a coroa do legítimo rei. Este, por sua vez, bem
triste, porém aliviado, agradeceu à rainha e pediu para retirar-se por algumas
horas, pois estava cansado. A Amada Rainha, sob os olhares de expectativa de
mais um ato de benevolência, respondeu que podia e pediu para Barbie cuidar
dele.
Como presente, todos os seus
súditos passaram a se empenhar em confeccionar o vestido da majestade. Pegaram
o lençol de sua cama, arranjaram linhas e cola e, após quase uma hora, seu
vestido estava pronto. Amélia resolveu então que fariam uma festa de inauguração
do vestido majestoso. Ela o vestiu e todos aplaudiram e deram vivas de alegria.
Então, colocou uma música de sua caixa de som e dançaram por mais uma hora.
Pelo buraco da fechadura da porta
do quarto, o pai de Amélia a olhava admirado com a arte da menina. E achou tão
engraçado, que decidiu que não atrapalharia.
Todos os moradores do Reino do
Muro de Livros estavam muito cansados e, por isso, dormiram. Após algumas
horas, estavam já todos acordados quando um dos brinquedos se manifestou:
- Amada Rainha, quando poderá
mostrar-nos mais de sua benignidade?
- Como assim? – perguntou Amélia,
que não havia entendido.
- Ora, quando é que poderemos ser
ouvidos quanto aos problemas do povo de seu reino e sermos atendidos?
- Que problemas?
- Ora, o bebê não come há algum
tempo, alguns jogos já estão velhos e precisam de assistência, sem contar que
não organizamos proteção nenhuma contra qualquer ataque!
- Ataque?! Quem nos atacaria?
Vendo que sua pergunta gerara
olhares desconfiados, como se Amélia estivesse fazendo descaso com o reino,
resolveu que atenderia a cada um deles. O problema é que cada um deles tornaram-se
muitos deles. O dragão precisava de dentes para comer e para botar medo
naqueles que o atacassem; o cavaleiro precisava de sua espada para se defender;
Barbie e Ken queriam se casar, mas o padre não queria casá-los porque ela não
tinha roupas apropriadas de casamento; o caubói sentia-se ocioso; os índios não
tinham fogo pra sua fogueira, nem instrumentos para tocarem sua música. Amélia
percebeu que era muita coisa pra resolver sozinha e que precisava de ajuda.
De repente, ouvem-se estrondos
ecoar pelo reino. Todos começaram numa correria que fez tudo virar o maior
caos! E no meio da confusão, a chupeta da boneca-bebê caiu e ela começou a
chorar, causando o maior alvoroço. Achando que estavam sob ataque, começaram a
subir pelo vestido de Amélia para recuperar seus pertences, e o rasgaram todo.
De posse da espada, o cavaleiro pôde gritar:
- À batalha, homens! Lutar ou
morrer!
- Que Deus tenha piedade de nós!
– choramingou o padre.
Os anjos tentavam voar com as
asas recuperadas, mas não conseguiam mais colocá-las de volta e começaram a
clamar a Deus por piedade também. Os ursinhos, que com botões ou sem botões,
focinhos ou sem focinhos não podiam fazer nada, rolavam como sempre, e
derrubavam todo mundo a sua frente. Os índios sacudiam os chocalhos recuperados
e quanto mais o bebê chorava, mais alto chacoalhavam. O caubói, com o chapéu,
recuperou sua dignidade e foi junto ao cavaleiro lutar na suposta batalha. O
dragão passou a cuspir fogo, mas ainda não causava medo, porque não conseguira
recuperar os dentes, e então fugiu junto com a Barbie e o Ken. Os jogos todos
se espatifaram e o único brinquedo que permaneceu calado foi a Morte, sedenta
pela batalha. O estrondo novamente se ouviu e a mãe de Amélia, que batia na
porta do quarto, perguntou:
- Que barulho todo é esse aí?
- É só o caos da rebelião, mãe,
mas já dou um jeito nisso.
A mãe foi embora sem entender e a
menina, vendo que não servia mais para ser rainha, resolveu contar a verdade.
Primeiro, precisava dar um jeito de aquietá-los. Colocou a chupeta de volta na
boca da boneca-bebê, pegou a cola e, um por um, foi consertando. Colou os
dentes do dragão e as asinhas dos anjos; juntou todas as peças do quebra-cabeça
e do jogo da memória; ajeitou os ursinhos perto do seu travesseiro, devolveu as
roupas da Barbie e, com retalhos do lençol, fez-lhe um lindo vestido de noiva.
Assim, todos foram aos poucos se acalmando. Quando estavam finalmente todos
quietos, Amélia perguntou pelo ex-rei. Bem cabisbaixo, ele apareceu e ela, recuperando
a coroa de seu vestido, foi até ele e o coroou dizendo:
- Eis aqui o verdadeiro Rei!
Todo mundo ficou sem entender e,
então, Amélia contou a eles toda a verdade, desde a construção do muro e a
rebelião contra seus pais. Olhando cada um deles muito envergonhada, disse:
- Queria pedir desculpas por ter
mentindo a cada um de vocês. Eu achei que desse conta de ser rainha e comandar
um reino sozinha, mas não sei fazer isso. Esse reino é melhor sem mim.
Foi em direção aos livros,
desempilhou-os e os colocou de volta no armário. Por fim, completou:
- E o Reino do Muro de Livros
nunca existiu. Eu inventei tudo. O muro era de mentira.
Completamente confusos, todos se
perguntavam “ E agora?”. Amélia, entendendo que precisava de um julgamento,
disse:
- Seja lá o que decidirem, estou
disposta a cumprir, nem que custe muito.
O rei, mesmo depois de todas as
mentiras e peripécias de Amélia, bondoso e nobre como era, compadeceu-se da
pobre menina, verdadeiramente arrependida, e decidiu que ela estaria livre de
qualquer acusação. Porém, como condição, pediu que ela o ajudasse a cuidar do
reino que agora era de volta o Reino do Quarto. Amélia prontamente disse que
sim, e entusiasmada, perguntou se poderia fazer um pedido. O Rei do Quarto
concedeu-lhe esse desejo, sendo aclamado pelo seu povo, que passou a chamá-lo
de Amado Rei. Ela pediu:
- Eu tenho uma irmã mais nova,
que ama cada um de vocês. Posso chamá-la para ajudar-nos a tomar conta do
reino?
- Quanto mais súditos, melhor! –
respondeu o rei todo alegre.
Amélia saiu sorrindo do quarto e
gritou por sua irmã. Seu pai a trouxe e ela disse:
- Pai, minha rebelião acabou.
Depois de um longo governo, percebi que não sirvo para comandar. Por isso, o
quarto tem um novo rei, muito melhor que eu, que por bondade poupou a minha
vida e me permitiu trazer minha irmã para ajudar a cuidar dele. Portanto, agora
podemos brincar juntas!
- E não está faltando mais nada,
filha?
- Poxa, pai! Corri risco de vida
aqui! O que mais que você quer?
- Amélia! Modos ao falar comigo!
Peça desculpas! Você deixou sua irmã muito triste hoje!
- Desculpa, irmãzinha. Você pode brincar comigo quando quiser.
- Que bom que aprendeu, Amélia.
- Desculpa, papai. Não farei mais
isso. Decidi que serei apenas uma súdita agora.
- Uma súdita?
- Sim.
- Amélia, você tem cada uma...
Ei, e o que é aquele lençol todo rasgado? Se sua mãe vir vai ficar muito brava!
- Relaxa, pai, depois eu explico
pra mamãe, ela vai entender. Era meu vestido de rainha com pertences valiosos
de cada brinquedo. Mas eles acharam que estavam sob ataque, então precisaram
recuperá-los de volta e começaram a subir no meu vestido. Ele acabou se
rasgando todo.
- Ataque? Do que você está
falando, Amélia?
- Ai, pai, você é forasteiro, não
vai entender. Faz um favor? Quando vier nos chamar, não bata muito forte na
porta, tá? Senão vai começar tudo de novo: os índios vão tocar os chocalhos e
dançar, o padre vai pedir piedade, os anjinhos vão sair voando, o dragão
cuspindo fogo, o caubói e o cavaleiro vão achar que estão numa batalha e pior,
se a chupeta do bebê cair, aí sim estaremos perdidos!
O pai ficou boquiaberto e achou
melhor não perguntar nada. Simplesmente disse ao sair:
- Amélia, tem hora que eu acho
que você lê demais!